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With Love.

With Love.

Viajar sozinha.

Íris, 29.04.24

 

Quem já viajou sozinho é um sortudo. 

É algo que tenho de trabalhar mais em mim porque até hoje nunca apanhei um avião sozinha. 

Sinto que tenho medo de me perder por aí.  

Sim, eu sei que é um medo muito parvo, mas ainda que parvo, ainda o tenho. 

 

A minha sobrinha de 27 anos já se fartou de viajar sozinha e admiro-a muito por isso. Simplesmente vai sem pensar duas vezes. 

E acredito que é o melhor. 

 

Este ano, logo no início do ano tinha pensado em fazer uma viagem sozinha. Mas assim que comentei com a minha sobrinha onde queria ir, ela tratou de organizar tudo e vamos as duas agora no mês que vem, Maio. 

Mas ainda assim é só uma semana e este ano gostava de aproveitar mais. 

No ano passado fiquei por casa e apenas fiz praia. 

Este ano queria aproveitar e desforrar estes últimos anos que foram de muito enclausuramento. 

Mesmo quando estava no meu antigo relacionamento, e nós não tendo quase despesas na altura porque a casa estava paga, não fomos para lado algum se não Algarve. 

O Algarve fica mais caro do que ir para fora, claro que, depende da organização na marcação das férias, mas é uma realidade. 

Por muito que lhe falasse de ir ali ou acolá nunca era opção e arranjava sempre desculpas. 

Deveria ter ido sozinha e a lixar-me para ele, tenho essa consciência, mas não seria propriamente "fácil".

 

Este ano gostava de ter a companhia de amigas e ou amigos para fazer uma outra viagem, mas até agora não consegui companhia e parece que ainda vou ver opções de roteiros para ir sozinha mas muito bem acompanhada. 

A verdade é que nos dias que correm a maioria dos meus amigos próximos tem a sua família e filhos e não há forma de conciliar, outros é o dinheiro, outros é simplesmente o não ter vontade.  

A verdade é que está difícil e também não vou com alguém que não ache compatível só para ter companhia, para isso prefiro ficar por casa. 

Mas ainda o Verão não começou por isso ainda estou na espectativa de ter umas férias só minhas. 

Talvez quando regressar das férias que vou ter já na próxima semana venha com ideias novas e mais coragem para que a próxima seja sozinha! 

 

 

Condomínio Barulhento II 

Íris, 29.04.24

 

 

Esta Sábado que passou a minha incrível vizinha de cima começou o barulho ainda mais cedo do que o costume.  

Ora então por volta das 6h acordo com o arrastar de um móvel seguido de o barulho de uma pista de dança com saltos altos. 

Não era, mas parecia. 

Deixo passar uns minutos e como continuou, levanto-me e pego na vassoura e dou uns toques no teto. 

Sim! Nunca me imaginei a bater com uma vassoura no teto mas tudo tem limites. 

Nada, continua na sua dança matinal. 

Fico tão passada das ideias que nem vou bater á porta dela porque pode correr muito mal, porque já estou tão farta que posso facilmente dizer algo que não queira e depois perco a razão. 

 

Pego no telemóvel e ligo para a PSP da minha área de residência para fazer queixa do barulho. 

Andei a evitar mas chega a um ponto que já não dá mais. 

 

Liguei para a PSP e falei com um agente muito simpático mas totalmente ineficaz. 

Contei o que se passava, que tinha uns vizinhos de cima que estavam constantemente a fazer barulho a altas horas da noite ou da madrugada e que já tinha feito queixa várias vezes ao condomínio e que o próprio condomínio disse para fazer queixa pois eram pessoas difíceis e que não querem saber de nada. 

O agente tentou a todo o custo que eu desistisse da queixa e disse-me que não ia dar em nada porque os polícias precisavam de ir ao sítio e medir o volume do barulho, que seria mais fácil se houvesse uma festa. 

E ainda me sugeriu que procurasse outra casa para fugir ao barulho! 

 

Estive mais de meia-hora com ele ao telefone e fiquei impressionada com o que ouvi. 

 

Sem dúvida pareceu-me simpático mas simpatia quando o que se pretende é ordem e respeito... 

 

 

Resumindo, já estou novamente á procura de casa. 

 

Uma vizinha da minha rua partilhou um episódio que lhe aconteceu faz umas semanas e que também teve de ligar para a PSP.  

Ela estava a vender uma mota e deixou o rapaz que estava a ver a mota conduzir um pouco. Então o que aconteceu é que ele fugiu com a mota. Deu meia volta ao quarteirão e havia uma carrinha branca parada para onde enfiou a mota. No entanto ele deixou para trás a mota com que tinha vindo, que deveria ter sido furtada também.  

Ela liga para a PSP que é mesmo aqui a 5 minutos de casa e disseram-lhe que não podiam fazer nada, nem sequer registaram a ocorrência. Talvez pela senhora ser brasileira, não? Honestamente foi o que pensei.  Mas é uma senhora de respeito, ao contrário da minha vizinha de cima que é portuguesa e desrespeitosa. 

Nem vieram ver a mota que a pessoa que roubou tinha deixado para trás, era uma mota quase nova. Eu vi-a em frente da minha casa estacionada, entretanto não sei quando nem como a vieram buscar, mas vieram, e não foi a PSP. 

 

Estas situações intrigam-me bastante. 

Se tivesse dito que os meus vizinhos barulhentos eram brasileiros, será que a PSP tinha aparecido? 

A PSP agora reformou-se pelo menos pelas minhas bandas. Ou agora ficam-se pelo telefone? 

Já li sobre a lei do barulho e esta situação não me faz sentido mas como esperar algo de eficiente num país que está completamente desarrumado.  

 

 

Eu e a minha mãe. 

Íris, 06.04.24

 

 

Quando me refiro á minha mãe, refiro-me á minha Tia, a pessoa que me criou desde os 6 meses. Irmã do meu pai e também minha madrinha. 

Afinal mãe é quem nos cria por isso tive a sorte de a ter tido, na ausência de uma mãe biológica, uma mãe que fez tudo o que estava ao seu dispor para me dar uma vida feliz. 

Fui a segunda filha que ela não pôde ter e de alguma forma sinto que nasci para ser filha dela e acompanha-la na sua jornada de vida, muito mais do que estar presente na vida do meu pai ou na vida da minha mãe biológica. 

Quase como se eu fosse um karma para estas três pessoas, mas nem todas estiveram disponíveis para aprender com ele e progredir. 

Mas a minha mãe, a minha Tia, ela teve coragem de me acolher e deu o seu melhor. 

Claro que nem tudo foi um mar de rosas. 

Houve tempos bem difíceis. 

 

 

 

Quando fui acolhida pela minha mãe, ela era casada com o meu Tio Zé (era assim que o chamava), e tinham uma filha já com 13 anos, a quem chamo desde sempre de irmã, e não poderia ter melhor irmã neste mundo, sempre esteve lá para mim, sempre. 

Na minha família, apesar de esta ser muito pequena, sempre existiram bastante atritos com o meu Pai. Porque sempre foi egoísta, sempre fez o que queria e bem lhe apetecia e nunca ninguém teve a coragem de lhe dar o que ele merecia, ou pelo menos lhe responder á letra. Os meus avós sempre lhe deram tudo desde sempre e mesmo em adulto era vergonhoso um homem com mais de 40 anos ser levado ao colo pelos pais, receber dinheiros dos pais, eles apenas com reformas, e ele como advogado, bancário e em cargos políticos. Ou seja, vivia acima das suas possibilidades, e em vez de se orientar pedia ajudas em demasia a pessoas já reformadas mas que não tinham coragem de não lhe dar. Claro que, como resposta a estes mimos em demasia, nunca aprendeu e hoje, com mais de 60 anos continua a ser uma pessoa que, para mim, é tóxica e só estou na presença dele em ocasiões como o Natal ou Páscoa. Tirando isso é uma mensagem de Parabéns e pouco mais. 

 

Mas, passando á frente. 

No meio dos atritos familiares, o meu Tio nunca suportou o meu Pai por todas as razões válidas. Ele sempre lutou muito para ter a sua casa e bens, tentava ajudar os pais já velhotes, tudo ao contrário do meu Pai. 

Quando a minha mãe me acolheu ele inicialmente não me aceitou, por me associar ao meu Pai. 

Mas rapidamente se converteu a um bebé sem culpa dos pais que tinha e foi como um Pai para mim. 

Ele sempre quis ter filhos homens e nunca teve, então, como eu era meia Maria-Rapaz ele levava-me para todo o lado, até para a pesca. 

Ele e a minha mãe não tinham muitas posses, mas deram-me tudo o que precisei, nunca me faltou nada. 

Era ao meu Tio que contava as minhas notas na escola e ele, sem muito jeito para demonstrar, ficava muito orgulho e dizia “muito bem”. E sorria, e os olhos brilhavam. 

Era o suficiente, o amor dele sentia-se, apesar da sua falta de jeito. 

Nunca questionei nem nunca me senti desprezada por ele, muito pelo contrário. 

Até de alguma sentia que ele me dava mais atenção do que alguma vez deu á própria filha, não por não gostar, mas por falta de á vontade para com as emoções. 

O meu Tio Zé tentou proteger-me sempre do meu Pai, quando o meu pai vinha armado em mandão com coisas que nada interessavam, apenas para descarregar em cima de mim. E claro que, os atritos na família sempre estiveram acesos, porque o meu pai assim provocava. 

 

Quando eu tinha 14,15 anos muita coisa começou a mudar. 

A minha mãe sempre foi uma pessoa muito temperamental, impulsiva, e sempre fez birras por tudo e por nada. Lembro-me dela ora estar bem ora estar mal. Seja comigo, com o meu Tio, até com a minha avó, mãe dela. 

Quase como se dependesse da lua ou da maré, simplesmente parecia bipolar. 

Quando estava bem tudo estava bem, quando estava mal, o ambiente ficava de cortar á faca.  

E nesta altura ela deve ter entrado na menopausa então tudo começou a correr ainda pior. 

Em casa começou a haver discussões ainda mais frequentes, diárias. 

A relação entre a minha mãe e o meu Tio nunca foi muito boa, pelo menos as recordações boas são meramente em convívios, entre eles nunca vi afeto ou bom relacionamento, mas também nunca me meti. 

Quando o ambiente começou a ficar pior, comecei a cada vez mais estar fora de casa para não ter de lidar com eles. 

Aos 15 anos, a minha mãe começou a ajudar um senhor meio invisual que morava relativamente perto de nós. Começou a ajudar na lida da casa, era um extra que ela dizia que dava jeito. 

Este senhor tinha acabado de ficar sem a mãe dele, que era a única pessoa que tinha e claro que, deu pena. 

Ele estava reformado por invalidez, porque a percentagem de visão era mínima. 

Andou numa escola de invisuais para aprender como andar de bengala e conseguia andar na rua com algum cuidado e bastantes limitações. 

Não poderia ser melhor situação para a minha mãe avançar e querer salvar o mundo. 

A minha mãe apesar de toda a sua confusão emocional, sempre tentou ajudar tudo e todos. Se se sentisse útil, os amuos e problemas que lhe passavam pela cabaça, passavam. Talvez fosse o que precisava para se sentir bem, era poder ajudar, sentir-se útil. Talvez porque nunca se tenha valorizado. 

Ela começou a trabalhar na casa deste senhor. Como a casa dele era a 5 minutos da minha, ela começou a passar muito mas mesmo muito tempo fora, chegava a casa muitas vezes já bem de noite. 

Claro que, não é uma situação normal, pelo menos para mim nunca foi. 

Ela começou a arranjar o jantar, deixava-o em cima do fogão e depois pedia-me para eu servir ao meu Tio, quando jantasse com ele. 

No início não vi razão para não o fazer, mas com o passar das semanas e meses, o meu Tio começou a fazer perguntas e a desconfiar de uma situação menos própria. E começou a sobrar para mim. 

Apesar de ele ter sido muito bom para mim, era um pouco bruto e impulsivo também. 

E começava a mandar vir com a situação, e a mandar com as coisas e aquilo causava-me demasiado stress. 

Chegou a um ponto de eu falar com a minha mãe e dizer-lhe para ela se desenrascar, não ia continuar a tapar buracos. 

Deixei de fazer companhia ao meu Tio para jantar e comecei a passar muito tempo fora de casa, ficava em casa de amigas ou assim até á hora de poder chegar a casa e ir logo para o quarto. 

O tempo foi passando e o ambiente continuou infernal. 

Claro que fui confrontando a minha mãe com as ausências mas ela não queria saber. 

Começou a passar fins-de-semana fora. 

E isto... foi só confirmar o óbvio. 

 

Este senhor a quem inicialmente começou a ajudar chamava-se Luís. 

Ele tinha uma casa em Sesimbra e ela dizia que ia com ele aos fins-se-semana para supostamente o ajudar com a casa de Sesimbra. 

Poderia até ser, mas não da forma como ela estava a fazer as coisas. 

Já não era nenhuma criança, muito menos o marido dela. 

Os meus avós, a minha irmã, todos perceberam o que se passava. 

 

Um dia, estava eu em casa ao fim da tarde de um dia de semana, e fui á varanda nem sei porque motivo. E vi-a á porta do prédio com o Luís. A forma como estavam os dois não era de todo muito católica.  

Ao ver aquela situação fiquei em pânico. 

O meu Tio deveria estar a chegar a casa. 

Foi horrível. 

Num bairro familiar, no centro de Lisboa, onde os meus avós vivem no prédio ao lado, toda a gente se conhece, isto era uma situação completamente lamentável e desnecessária. 

Mas o que é que ela estava a fazer? 

Que falta de respeito. 

Isto marcou-me da pior forma possível. 

O meu Tio chegou a casa pouco depois de eu ter visto a situação. 

E claro, vinha transtornado. 

Vinha a mandar vir, e com razão. 

O ambiente começou a ficar insuportável e comecei a passar os fins-de-semana com a minha irmã para conseguir descansar. 

A minha mãe começou a dormir na sala e as ausência começaram ainda a ser maiores. 

O divórcio aconteceu 2 anos depois, por isso foram 2 anos de muito stress. 

 

 

Ao fim dos 2 anos fui arrastada por ela para casa deste Luís, tinha 17 anos. 

E nunca mais vi o meu Tio. 

Apesar de não concordar com nada, acabei por levar por tabela, como se eu tivesse a apoiar a atitude da minha mãe, mas não. Eu era dependente dela, visto estar a cargo dela.  

Tinha vergonha, muita vergonha por tudo o que ela andava a fazer. 

 

O Luís, vivia num T1 que era perfeitamente suficiente para ele, mas para 3 pessoas, este T1 era mesmo muito pequeno. 

A opção seria eu dormir na sala. 

E, apesar do Luís achar melhor arranjarmos uma casa maior, a minha mãe disse que não fazia mal, que eu me “desenrascava”. 

Então dividimos a sala em 2, com uma porta de fole. 

De um lado ficou uma mini sala, e do outro um mini-quarto. 

Desenhei uma mobília com cama, armário e secretária, e pedimos para fazer á medida, de outra forma era impossível ter espaço para tudo. E assim foi. 

 

Quanto á porta de fole, não era todo uma má opção, mas seja o barulho e falta de privacidade foram pontos que me foram muito difíceis de habituar. 

De repente deixei de ter um quarto, e logo aos 17. 

 

De manhã, mesmo ao fim-de-semana, antes das 8h já havia música na sala, e bem alta. 

Claro, o Luís, uma pessoa que não estava habituado a conviver com outras pessoas, e nunca tinha vivido com ninguém estava a fazer a sua vida normal sem sequer pensar nos outros. 

Ele embirrava mesmo comigo. 

Assim que a minha mãe saía de manhã para trabalhar, ele começava imediatamente a fazer barulho, e até abria a porta de fole, dizia que a casa tinha de arejar. 

Passava-me completamente. 

Falava com a minha mãe e ela falava com ele mas tudo continuava. 

 

Havia situações em que tinha a certeza que era implicação dele. 

Dizia-lhe que ia ter um exame por exemplo ás 10h, que tinha de sair de casa ás 9h. E ele fazia sala no WC durante horas para que eu não conseguisse me despachar a horas. Chegou a colocar coisas minhas dentro da banheira com água. 

Houve situações que chegaram mesmo a provocar atrasos em exames. Noites em que fazia diretas a estudar e que depois não conseguia nem dormir 1 hora. Levou-me á exaustão. 

Ele mal tinha visão, e dava desculpas, mas sabemos perfeitamente o que é uma desculpa ou não. 

 

Era como se ele tivesse a disputar a minha mãe comigo. 

Não fazia sentido. 

Foram tempos de mau ambiente, mas á medida que fui crescendo fui também aprendendo a lidar com ele. Percebi que o falar com a minha mãe era pior. E percebi que a chave para nos darmos melhor, tinha apenas a ver connosco e tinha de deixar a minha mãe de fora, pois também não confiava no que ela falava com ele. 

Melhorou tudo gradualmente. 

A minha mãe entretanto reformou-se e eles começaram a passar grande parte do tempo em Sesimbra, por isso comecei desde cedo a ficar sozinha em casa, meses, devia ter cerca de 19 anos. 

Com esta idade já trabalhava e conseguia sustentar-me sozinha, aliás já o fazia desde o momento em que fui trabalhar aos 18 anos. 

O tempo que foram passando em Sesimbra foi cada vez maior e uns anos mais tarde, já era muito raro irem a Lisboa, e foi numa altura em que as rendas levaram um ajuste. 

A renda que este T1 tinha em Lisboa, eram cerca de 150€ porque era uma renda antiga e na altura foi atualizada para 350€. 

Quando isto aconteceu, tinha eu 26 anos. 

A minha mãe foi a Lisboa e disse-me que ia entregar a casa ao senhorio. Fez-me um ultimato: ou eu ia com ela para Sesimbra ou passavam a casa para mim. 

 

Na altura estava a trabalhar e estava no último ano da Universidade, que era privada mas que eu conseguia pagar uma vez que não tinha despesas. 

Na altura recebia cerca de 650€ e a Universidade eram quase 400€. Era impossível continuar a estudar mas não tinha hipóteses, tinha de optar. 

 

Viver em Sesimbra na altura pareceu-me impossível, entrava no trabalho antes das 8h da manhã e as aulas acabavam muitas vezes depois das 23h. Por outro lado já não me imaginava a viver com a minha mãe. 

Não tive muito tempo para pensar e decidi ficar com a casa até arranjar uma solução melhor. 

 

E assim foi, passaram-me a casa. 

Mas não totalmente. 

Então a ideia da minha mãe era eu pagar a casa, mas manterem o nome deles no contrato. 

Não me opus, porque sabia que se não fosse assim, o valor ainda ia ser superior ao dos 350€, por isso aceitei. 

Fiquei com a casa para mim e eles foram de vez para Sesimbra, e levaram os seus pertences todos, com exceção da mobília do quarto, que não lhes fazia falta e a mim dava-me jeito. 

E, rapidamente coloquei a casa a meu gosto, comprei sofás, tudo o que me fazia sentido. 

Passado um mês, já tinha a casa composta e tinha combinado um jantar de amigos em casa para comemorar o novo começo.  

No dia do jantar, 6ªfeira a minha mãe liga-me a dizer que estão a ir para casa. 

Ao que eu, incrédula, respondo que não, que aquela já não era a casa dela. 

Foi uma discussão bastante agressiva, mas consegui colocá-la no lugar. 

Disse que não a deixava entrar, e se quisesse vir á minha casa, tinha de avisar com antecedência e tinha de vir durante o dia porque não tinha sítio para eles dormirem. 

Tentou medir forças comigo e eu tranquei a casa, ela teve de voltar para Sesimbra. 

Foi um momento muito feio, mas na altura percebi perfeitamente a jogada dela. 

E o pior... era a minha mãe. 

Já não me bastava o meu pai, a minha mãe, estava a usar-me ou pelo menos a tentar. 

Quando me dei conta do filme todo fiquei muito desiludida. 

Ela não queria gastar dinheiro com a casa, tudo bem, mas tinha sido honesta. 

Não pensou sequer que eu tinha de deixar de estudar para ficar com um teto para mim. 

Ou seria tudo chantagem para que eu fosse com ela para Sesimbra? 

 

Consegui passar 2 anos de paz nesta casa, no centro de Lisboa. 

 

Mas ao fim de 2 anos a minha mãe, até hoje não sei o que lhe passou pela cabeça, num dia em que foi a Lisboa, conversar com uma das minhas vizinhas do prédio com quem eu me dava muito bem, passou-se arranjou uma discussão tal, que só sei que tive de deixar a casa em 2 meses. 

Sempre tive uma relação muito boa com esta vizinha e ela também, já se conheciam fazia muito tempo. Esta vizinha era também amiga do senhorio. 

Ainda hoje não sei o que se passou, só sei que me deram 2 meses. 

Recordo-me de estar na minha sala com o Luís e a minha mãe. 

O Luís teve a primeira grande atitude para comigo, e até hoje não esqueço. 

Ele disse-me" não vou sair daqui enquanto não garantir que tens um teto ou tens onde ficar”. 

Ele com o tempo começou a conhecer mais e melhor a minha mãe e percebeu que ela, apesar de ajudar muito as pessoas, também joga com elas. 

A minha mãe perdeu a cabeça, armou confusão e sobrou para mim, mais uma vez. 

Estava fora de questão ir viver com ela. 

Mesmo na altura podia ir para Sesimbra e até adorava, mas viver com ela já não era uma alternativa. 

Falei com amigos e fui alugar casa a meias com um amigo de infância. 

Em vez dos meses, saí de casa em 15 dias. 

Só queria era fugir dali e deixar de ter qualquer tipo de dependência com a minha família. 

 

Seja mãe, seja pai. 

Todos eles de alguma forma se aproveitaram de mim por isso preferia dividir casa, confiar nos meus amigos, mais do que na minha família. 

Se não tivesse sido o sentimento de gratidão que sempre tive para com ela, talvez tivesse cortado relações com ela. 

Ainda hoje não percebi que discussão ou problema que ela arranjou com a vizinha que me fez ter de abandonar a casa. 

A verdade é que ela teve praticamente 2 anos sem voltar a casa, no dia em que volta, arranjar esta situação. 

 

Fui dividir casa com o tal amigo de infância que se chama David. 

Não me arrependo nem por 1 minuto, foi sem dúvida a melhor decisão que tomei. 

E tive 2 anos a dividir casa e foi um período muito tranquilo da minha vida. 

Apenas saí quando fui estudar novamente, por motivos de dinheiro. 

E voltei-me a enfiar num buraco, que foi viver com o meu pai durante 2 anos. 

Não me vou alongar muito, apenas posso dizer que ao fim de 1 ano o meu pai começa-me a cobrar despesas (uma pessoa que me roubou a conta bancária e nunca meu deu 1€). Assim que apareceu o covid, coloca-me fora de casa, e dá-me os meus pertences pela janela. 

Passo 2 anos a viver com o meu namorado da altura. Ao fim de 2 anos, ainda antes de me separar dele, ele começa a ameaçar-me colocar-me na rua. 

 

Bom, é quase um padrão. 

Todos aqueles em quem eu confiei, tiraram-me o tapete. 

Se tiver de ter 2 ou 3 trabalhos terei, se tiver de alugar um quarto não me importo. Mas nunca mais volto a ter dependências relativamente a família ou namorados. 

Jamais. 

 

Hoje em dia tenho uma boa relação com a minha mãe.

Mas só foi possível depois de tomar uma atitude diferente.

Em 2020 confrontei-a com tudo, não em discussão, mas com uma conversa séria. Era importante ela perceber o filme todo, o que ela realmente fez, apesar de poder não ter dado conta. 

Inicialmente correu mal, ela virou-se contra mim e eu deixei de lhe atender o telefone e de lhe ligar e deixei passar um ano. 

Só queria que ela refletisse sobre o que aconteceu.

De forma alguma a queria castigar, queria era começar de novo.

Já não conseguia lidar mais com ela com tanto por dizer.

Conseguimos conversar a sério.

Ela chorou muito, vi que lhe custou muito ter consciência das suas atitudes.

Mas teve, era isso que precisava. Porque não sou ninguém para a castigar nem o ia fazer. Acredito que melhoramos quando temos consciência dos nossos atos e assim foi.

Só queria que ela percebesse, para podermos recomeçar e nos darmos bem.

E Correu bem.

 

 

 

 

Nos dias de hoje, não consigo ouvir nem discussões nem gritos. 

O silêncio para mim é tudo. 

Se ouvir alguém a bater com portas fico stressada. 

Foram tudo aprendizagens difíceis mas em todas elas houve solução.  

Todas. 

Mas foi necessário trabalhar muito a paciência, ter amor-próprio e pensar positivo. 

Ou melhor, nem olhar para trás. 

 

 

 

Ralhar vs ensinar.

Íris, 05.04.24

 

 

Desde pequenos que temos aquele trauma dos nossos pais ralharem connosco para limparmos o nosso quarto ou arranjarmos o sofá depois de uma noite passada a ver filmes na sala. 

Quem nunca levou um ralhete por não arrumar ou não limpar algo? 

Quase todos nós passámos por isso e faz parte da nossa aprendizagem. 

O que ninguém nos ensina é que limpar é positivo, é tratar das nossas coisas, é mantermos o nosso ambiente saudável e isso deve ser encarado de uma forma mais natural, e não como uma obrigação, é mais do que isso. 

Não temos propriamente a obrigação de limpar ou arrumar, penso que tenha mais a ver com um dever para connosco próprios, para nosso próprio bem-estar. 

Encarar como uma obrigação, enquanto crianças e jovens, sem perceber os benefícios que nos trás, faz com que muitas vezes nos tornemos adultos desarrumados e consequentemente desorganizados. 

Desorganização perante os assuntos escolares, no trabalho, e principalmente na organização das nossas horas e tempo livre. 

Penso que é cada vez mais importante sermos organizados, ora uma vez que o tempo passa a correr, se formos um pouco metódicos com a nossa organização conseguiremos tirar partido do nosso tempo, deixando uma boa janela para fazermos o que gostamos e isso é o que mais valor dá á nossa vida, e não as obrigações perante os deveres como o trabalho. 

 

A minha sobrinha nasceu tinha eu 11 anos, era muito jovem. 

E ela viveu na minha casa grande parte do tempo, por questões de saúde, até ir para a primária e mesmo depois passava muito tempo na minha casa e era eu que cuidava maioritariamente dela. 

Seja a pedido dela, seja pelos horários disponíveis que tinha na altura. 

Nunca foi um fardo, muito pelo contrário, foi um gosto incrível e até hoje, ela já tem 27 anos e continua a ser a minha pequenina. 

Quando era pequena, e desarrumava a casa toda, era brinquedos, legos pela casa toda, o normal nas crianças pequenas, faz parte e é saudável. 

Na hora de arrumar, geralmente a minha mãe pedia-me a mim para arrumar, uma vez que ela era pequena, então comecei a ensinar-lhe a arrumar. 

De que forma? 

Por exemplo com os legos, pegava no balde dos legos e começava a dançar com ele, enquanto apanhava as peças, e puxava por ela. Claro que ela alinhava, porque até achava engraçado, e acabava por arrumar também. 

Outras vezes motivava-a, dizendo que íamos arrumar para os brinquedos não se estragarem e para podermos fazer outras coisas “giras”. 

Tentei dar-lhe uma perspetiva positiva e leve da arrumação e ela correspondeu sempre muito bem. 

Claro que é só um exemplo, mas como correu bem, resolvi partilhar. 

 

Muitas vezes ralhar com as crianças não faz diferença porque na verdade só ouvem o “não” e não percebem o porquê de terem de fazer ou algo ou de não poderem fazer determinada coisa. 

O “não” acaba por ser quase traumatizante e depois em adultos temos dificuldade em dizer o não quando deve ser dito e, acaba por ser uma bagagem que pode ser evitada. 

 

Muitas vezes não se explica ás crianças o porquê de não poderem fazer algo mas é muito importante explicar, as crianças percebem melhor do que nós pensamos, eles estão a crescer e entender as pequenas coisas vai ajudar na construção das suas personalidades.  

 

Muitas vezes subestimamos as crianças, mas elas entendem melhor do que imaginamos. 

Só não temos essa ideia porque mal temos recordações de quando eramos pequenos. 

 

Não nos podemos esquecer que ralhar não é igual a ensinar. 

 

 

Condomínio barulhento.

Íris, 02.04.24

 

 

Quem nunca teve vizinhos barulhentos? 

Atualmente tenho uns vizinhos que vivem por cima de mim muito barulhentos. 

Uma senhora na casa dos 60 e o seu filho, que, honestamente mal o oiço. 

Mas ela, apesar de parecer que não parte um prato, anda de saltos altos todo o santo o dia pela casa, arrasta móveis como se estivesse sempre em festa. Quando se vai deitar, pela 1h da manhã, bem por cima do meu quarto, é saltos, coisas a cair pelo chão, e tudo o que se lembra de fazer aquela hora. Depois, ás 7h até o despertador oiço pois ela deve ser surda e nem o desliga.  

Tenho dois quartos e já experimentei mudar de quarto, mas o barulho que ela faz, faz eco, então a diferença é quase nula. 

Espera pelas 8h em ponto para começar a aspirar. 

Quanto ao barulho é todo o santo dia nisto. 

Eu que trabalho em casa, passo o dia a ouvir o barulho e chego a um ponto de exaustão que já nem sinto produtividade no trabalho. 

Por vezes termino o trabalho ás 18h e vou para o sofá tentar descansar, mas tem batido sempre na hora de arrastar móveis e já nem sei mais o quê. Não consigo imaginar o que é que aquela alma tenha para fazer todo o santo dia. Penso que deve ser mais problema mental do que outra coisa. 

 

Fiz queixa ao condomínio já várias vezes e não fez efeito então no Sexta passada resolvi começar a ligar para a PSP a ver se o problema do barulho acalma. 

Já sinto stress na hora em que me deito e até já tenho eczemas na pele que penso serem do stress. 

Sou uma pessoa muito calma e detesto barulho então também tenho dado o desconto porque sei que aprecio o silêncio muito mais do que a maioria das pessoas. 

Tenho tentado perceber se é embirração minha mas penso que não. 

Quanto mais cansada fico, pior, parece que não consigo sair da minha rodinha de hamster, nem para a frente nem para trás. 

 

Ao fim-de-semana é quando a vizinha se lembra de fazer mais barulho ainda, então já estava preparada para tomar a minha ação. 

Confesso que me sinto muito desconfortável por ligar á polícia, pois isto é um assunto que é completamente desnecessário. Parece que me sinto mal por causa dos outros.  

Lá está, são aprendizagens e percebo que tenho de as fazer e agora é o momento. 

Tenho de largar a responsabilidade que não é minha e deixar os outros pagarem pelas suas ações, sem que me sinta mal com isso. 

 

Na Sexta, dei o desconto por ser Páscoa (sim, lá estou eu com as minhas desculpas, apesar de ser eu que não durmo). E por essa mesma razão, ás 2h da manhã, em vez de ter uma vizinha barulhenta, comecei a ouvir gritos no prédio. Fui até ás escadas do prédio e percebi que era do piso acima dos barulhentos. Liguei para a responsável do condomínio e ela, que também ouvia a gritaria, foi lá tocar á campainha. 

Nada feito, ninguém abria a porta nem paravam com o barulho. 

Pois bem, naquela casa vive um casal de idosos, ele já demente, e ela bem surda, de forma a que quando vai dormir, remove os aparelhos dos ouvidos e não ouve o barulho que o homem faz, mas que se ouve no prédio inteiro. 

A responsável do condomínio ligou para o filho do senhor e ele veio de Lisboa quase ás 3h da manhã para ver o que se passava. 

O senhor dos gritos, que até é bastante querido mas já não está bom do juízo, mesmo dormindo de fralda, acha que ir ao WC de 10 em 10 minutos durante a noite é algo porreiro mas, como mal se aguenta em pé, cai no chão. Como não se consegue levantar, começa a chamar pela mulher. Mas bem pode o mundo cair que ela não dá conta. 

Quase que tenho inveja da mulher e das pessoas que tomam drunfos para dormir, pois dormem a noite toda. 

Uma pessoa como eu que não toma nada, passa noites acordada á espera que se cansem e que durmam. 

Já percebi que mesmo chamando a polícia este prédio está cheio de surpresas. 

Ontem, ia chamar a polícia por causa da vizinha de cima e começo a ouvir o senhor novamente na gritaria a chamar pela mulher. 

Liguei para senhora do condomínio mas desta vez, sem sucesso. Porque também toma medicação para dormir.  

Pensei, se vou chamar a polícia para os vizinhos de cima, vão ouvir o homem e daqui a pouco temos bombeiros e assistente social aqui no prédio. 

Peguei nos cobertores e mudei-me para o sofá da sala. 

Mas é triste uma pessoa pagar um balúrdio de renda e ter de ir para o sofá para tentar descansar umas mísera horas noturnas. 

Hoje de manhã já voltei a falar com a senhora do condomínio e fui-lhe o mais honesta possível. 

Disse que não iria ter mais em conta os outros ,e iria pensar no meu descanso, que já estou á demasiadas noites sem descansar. 

Por isso hoje, se tudo se mantiver, lá vou eu quebrar o meu padrão de ser submissa a pessoas barulhentas. 

O barulho é algo que me causa stress e ansiedade e por isso tenho muita dificuldade em lidar. 

Mas... são tudo aprendizagens. 

Até conseguir mudar de casa vão ter de levar comigo. 

 

 

 

Dietas loucas.

Íris, 27.03.24

Um tema sensível para muitos é a alimentação ou tudo aquilo que ingerimos. 

 

Todos somos diferentes, genética diferente, gostos e ou mesmo atividade física do dia-a-dia que é diferente e por isso acabamos por fazer ajustes constantes ao que ingerimos. 

 

Partilho o meu exemplo, com a ideia de ser apenas uma partilha proveniente das minhas experiências pessoais. 

 

 

Desde sempre comi tudo.  

Fugia dos processados, alimentos com corantes.  

Não retirava nada totalmente, mas evitava ou tentava escolher os menos processados ou com menos “extras”. Ingeria alcóol pontualmente e comia carne, peixe, tudo. 

 

Os anos foram passando e fui adaptando a alimentação e o meu metabolismo também foi mudando, foi-se ajustando. 

 

Aos 30 anos, supostamente as mulheres começam a ter mais tendência para engordar, pelo menos era o que tinha em mente. Então aos 30 comecei a fazer uma maior triagem na alimentação, mas sem retirar absolutamente nada. Era mais rigorosa com a quantidade de legumes que ingeria, e sempre que me apetecia um doce comia uma tablete de chocolate sem pensar duas vezes. Assim fugia de bolos ou bolachas ou tudo o que pudesse vir cheio de corante e conservantes. Claro que o chocolate também tem, mas a proporção e a saciedade são completamente diferentes. 

 

Então aos 30, comecei a fase de maior triagem e com ela o meu corpo começou a mudar. 

Quanto melhor a alimentação, maior o apelo do organismo para comer comida limpa. 

 

Parecia que quanto mais me desintoxicava de processados mais conseguia perceber o que me fazia bem ou mal. Porque uma coisa é certa, as dietas são relativas, porque os nossos corpos têm reações diferentes, processam os alimentos de forma diferente. 

 

O que me faz bem ou mal pode não ter o mesmo efeito em outra pessoa. 

 

Sempre tive esta consciência então tive sempre a fase da experiência, experimentar um ou outro alimento e após algum tempo, mediante o efeito que sentia é que o trazia para a minha alimentação. 

Para terem um exemplo de uma experiência menos boa: ouvia dizer para comer soja e granola que fazia bem. Pois bem, ao fim de 1 mês tinha engordado quase 4kg sem dar conta e assim muito rápido. Desde esta experiência comecei a ter ainda mais cuidado com o que se diz por aí. 

 

Mesmos os nutricionistas, muitos dizem para se comer de 2 em 2 horas. E pergunto o porquê? Alguém já ficou com o seu corpo bonito com uma dieta alimentar assim? Eu já tentei e nunca perdi peso rigorosamente nenhum, aliás o meu nível de energia era péssimo e tinha digestões muito más, dores de estômago e por aí fora. 

 

Por isso li e vi muita informação de várias fontes diferentes e experimentei por mim mesmo. 

 

Há cerca de 4 anos, comia um pouco de tudo, incluindo comia carne 2 a 3 vezes por semana. 

Peixe também, talvez umas 2 vezes por semana. 

Mas comecei a fazer o jejum intermitente. 

Experimentei algumas janelas horárias e percebi aquela que melhor correspondia ao meu estilo de vida então comia entre as 12h30 e a 23h. Mas comia de tudo, pizas, carne, peixe, doces, tudo. Não era um jejum muito grande e os dois primeiros dias foram difíceis mas a verdade é que comecei a sentir-me mais focada no trabalho, com mais energia e o corpo desinchou. 

Fazia as horas de jejum, e pelas 12h30 almoçava 2 a 3 ovos numa cama de pão. Por vezes adicionava espinafres, rúcula ou outros vegetais. Lanche e jantar comia tudo o que me apetecia. 

 

Comecei a gostar dos efeitos e havia dias em que alargava estas horas, fazendo um jejum de 16horas principalmente no Verão. 

Nesta altura treinava cerca de 3 ou 4 vezes por semana e sentia mais energia no treino. Como se o corpo tivesse a canalizar de uma forma mais positiva tudo o que ia buscar aos alimentos. 

 

Comecei a sentir mais necessidade de comer mais sopa principalmente no Inverno, mas chegava a comer 2 tigelas de sopa. E rapidamente a digestão era feita e ficava leve, e vinha a fome novamente. Sentia que as digestões eram rápidas, e isto também me ajudou a dormir melhor, pois á noite já não tinha comida no estômago á hora de me deitar. Quando tinha fome antes de ir me deitar comia chocolate preto. 

 

Um ano após iniciar o jejum intermitente, comecei a sentir necessidade de comer mais fruta, mais saladas e ao mesmo tempo de deixar de comer carne. Foi uma mudança gradual. 

Comia carne talvez 1 a 2 vezes por mês e reparei que não me estava a fazer diferença a nível de energia, bem como as minhas análises começaram ainda a ter melhores resultados. Não sei como mas a verdade é que costumava ter uma ligeira anemia e deixei de a ter, á medida que comecei a deixar de comer carne. Como se os nutrientes que o meu corpo precisasse estariam a ser totalmente absorvidos pelas frutas e legumes que ingeria.  

Por isso quanto mais cortes fazia na carne e peixe, mais energia sentia, melhor desempenho no ginásio e melhor aspeto sentia tanto na pele como cabelo, unhas, e o corpo começou a ficar mais seco e mais tonificado mesmo quando não treinava tanto. 

E foi gradual. 

Fui percebendo o que me fazia sentido ingerir, fui adicionando á dieta alimentar novos alimentos que antes não consumia com regularidade bem como fui deixando outros que comecei a perceber que não me estavam a fazer bem. 

 

Hoje, já não como carne á cerca de 1 ano e meio, e peixe como apenas quando como sushi que é de quando em quando. 

Como sopa todos os dias, como 3 ou 4 ovos por dia ao almoço. 

Como pão á hora de almoço e por vezes ao lanche mas não mais do que isso. 

Como saladas, legumes, quiches e pizas, massas. 

Tudo o que me apetece e tenho sempre chocolate negro em casa e do mais barato que há. 

Por vezes como gelados cheios de tudo, e sei que sofro as consequências depois, seja pela lactose ou pelo açúcar, mas se me apetece simplesmente como. 

 

Resultado... não tomo medicamentos, nem sequer aquele mais básico para dores faz anos e nunca me senti tão bem. E claro, não me lembro da última vez que tive doente, e penso que tudo é um resultado do que vou ingerindo. 

O mindset contribui da mesma forma, não esquecer! 

 

Penso que não há necessidade de sermos totalmente radicais com a dieta ou restrições, mas sim, perceber o que nos faz sentido, que alimentos nos fazem bem ou não, independentemente das dietas que se divulgam por aí. 

 

O importante é fazermos alguma atividade física, beber água, consumir alimentos frescos dentro do que nos for possível. E aqui há uma dificuldade tendo em conta os preços dos produtos bio que estão agora na moda. Mas há sempre aquelas mercearias ou praça que mantém uma qualidade e preço mais acessíveis. 

 

Por muito que nos divulguem os cereais ao pequeno-almoço como boa opção continuo com muitas reservas pois já experimentei de tudo um pouco e não é bem como nos apresentam nas dietas. A maior parte dos cerais vêm carregados de açúcar e uma taça de cereais pode ter mais do dobro de calorias más (açucares brancos) do que temos ideia. 

É muito importante olharmos para a informação dos alimentos antes de comprarmos. Aprender a ler os rótulos ajuda-nos imenso a perceber o que vamos ingerir e não cair nos erros das publicidades. 

Porque aquilo que nos vendem são produtos processados, cheios de corantes e carregados de açúcar. 

E agora as modas também consistem em produtos cheios de proteína. 

Mas já falaram com um médico sobre a absorção da proteína? Devemos ter isso em atenção também porque é como tudo, é preciso equilíbrio ou os efeitos de uma sobredosagem podem ser muito maus.  

Para tudo devemos ter um equilíbrio. 

Custa-me ver pessoas a seguir dietas loucas sem resultados, quando a única coisa que precisam é de perceber o que lhes está a fazer bem ou mal. 

E os entendidos na matéria só querem é ter lucros e vendem dietas que não fazem sentido para todos, podem fazer sentido para algumas pessoas. 

Hoje em dia há muitas opções para explorarmos o capítulo de uma alimentação saudável. 

Mas também sabemos que a maioria das clínicas e especialistas focam-se nos rendimentos em vez de ajudarem verdadeiramente as pessoas a ter uma melhor qualidade de vida. 

É preciso procurar, mas há muitas opções. 

 

Alimentação saudável é mais do que escolher comida, é uma alimentação nutritiva e que nos faça bem. Nos faça sentir bem.

Numa alimentação saudável não há picos de fome ou de gula porque o organismo está estável. Se há picos de fome sem razão aparente, algo não está bem e precisa de ser repensado.

 

 

 

Eu e o meu Pai. 

Íris, 20.03.24

 

 

Esta é parte da minha história com o meu pai. 

Os podres. 

Ou parte deles. 

Honestamente nos dias que correm, já tenho muito curado em mim, mas há alturas em que ainda mói alguma coisa. 

Não pelo que se passou, mas pela indiferença dele, por ele não reconhecer por um segundo absolutamente nada do que fez. 

Ora aqui vai. 

 

 

 

O meu pai e a minha biológica tinham e têm grande diferença de idades. Quando nasci ele tinha 37 anos e ela ia fazer 19 anos. 

Tentaram viver juntos durante uns meses mas não resultou e com cerca de 3 meses já estava a viver com a minha mãe adotiva, mas que era a irmã do meu pai. 

Ela criou-me e deu-me tudo o que podia e ainda hoje ela é a minha mãe, de quem eu gosto e prezo muito. 

 

Quando era pequena estava com ele aos Sábados quando ia a casa dos meus avós para passar a tarde com eles. Sim, ia ver o meu pai e os meus avós, mas com quem eu realmente estava era com duas almas lindas que eram os meus avós. Eles sempre foram muito bons para mim e sempre tentaram á sua maneira compensar a atenção que o meu pai não me dava, seja porque não tinha jeito para desempenhar o papel de pai, seja pela falta de afeto ou outros temas que na altura não tinha consciência. 

 

Os meus avós já faleceram faz longos anos mas tenho-os na minha memória com inúmeras situações felizes. Para mim foram perfeitos e estou-lhes muito grata por todo o tempo e dedicação que tiveram, principalmente quando estavam mais velhinhos e a saúde já não era muita. 

 

Recordo-me de passar alguns fins-de-semana com o meu pai quando era pequena mas não tenho grandes memórias. Lembro-me de que ficava sempre doente quando estava com ele e ele ralhava comigo como se tivesse culpa. Tenho recordações boas sim, e muito boas de pessoas que estavam com ele na altura, seja uma ex-mulher e alguns amigos. Eles todos eram fantásticos comigo e ainda hoje mantenho o contato com a grande maioria.  

 

Quando era adolescente comecei a estar mais com o meu pai, jantávamos uma a duas vezes por mês para conversar e estarmos os dois. 

Lembro-me também desta altura perceber e ou compreender que afinal ele não tinha era jeito com crianças e por isso agora que já estava mais crescida ele estava mais á vontade comigo. 

Mas mesmo assim ficava triste quando ele ficava feliz com as filhas e filhos dos amigos, fazia comentários positivos com outras pessoas e nunca comigo.  

Tinha sempre uma necessidade de me dizer que eu não era suficiente. 

Eu tinha de estar sempre muito arranjada se não levava logo um comentário infeliz. 

Podia ter as melhores notas da escola, que para ele era igual, os outros eram sempre melhores do que eu. 

Ele não precisava de o dizer, eu sentia pelo ar que fazia quando lhe partilhava alegremente as minhas notas. Como eu queria que ele tivesse orgulho em mim. 

Durante muitos anos fiz de tudo o que podia até um dia perceber que não havia nada a fazer, ele jamais iria ter orgulho em mim. 

Era capaz de estar semanas sem me ligar mas se imaginasse algo menos bom que eu tivesse feito, era capaz de me ligar a gritar e ameaçar. 

Não me dava mesadas, nunca me ajudou com absolutamente nada, apenas pagava os jantares que eu tinha com ele. 

 

Os anos passaram e quando estava no secundário,  já no 11º ano percebi que queria ir para um curso profissional, queria estudar webdesign. 

Recordo-me de ir ter com ele ao escritório dele (um dos trabalhos dele era como advogado e o escritório era relativamente perto da minha casa) e falar-lhe do curso que queria tirar. 

A resposta dele foi rir-se na minha cara e dizer-me que eu não sabia o que queria e que a resposta era não. 

 

Não desmotivei, sabia que tinha alternativas. 

Falei com a minha mãe sobre a minha conta poupança que eu tinha desde pequena com juros acrescidos porque era filha de bancários, onde estava a ir o abono, dinheiro que os meus avós, padrinhos e família depositavam, e que eu própria juntava das prendas de Natal e Aniversário que na altura era bastante. Tinha família emigrada e recordo-me de juntar um bom dinheiro que me davam para algo futuro. 

 Sabia que a quantia e com os juros já devia ter um bom valor e deveria ser mais que suficiente para o curso. 

A minha mãe concordou e foi ver da conta. Na altura ela também não tinha muitas possibilidades, se não sabia que ela me oferecia o curso de bom grado. 

Pouco tempo depois percebemos que a minha conta estava a zeros. 

Tinha sido levantado todo o valor pelo meu pai. 

Levantou tudo para dar de entrada para a casa dele. Provavelmente até o valor que lá estava era superior ao que eu julgava. 

Mas para mim, não houve dinheiro para estudar. 

 

Esta situação provocou um atrito gigante na família, porque o meu pai sendo bancário e advogado e tendo várias fontes de rendimento não precisava de ir á minha conta, de forma alguma. 

Não só o fez como se recusou a pagar-me o curso. 

Aliás, nunca até aquela data lhe tinha pedido seja o que fosse. 

 

 

Continuei o secundário a arrastar-me.  

Não gostava e sempre achei que não era ali que deveria estar. 

Fiquei muito desmotivada. 

E fui-me esquecendo. 

Terminei o secundário sem saber o que fazer, então fui trabalhar. 

Com 23 anos candidatei-me á faculdade e entrei. Não fui tirar nenhum curso que gostasse muito, tirei algo que conseguisse tirar com alguma facilidade enquanto trabalhava. 

 

Ainda na universidade, com 25 anos entrei num novo trabalho na área da banca e saúde. 

Não era um trabalho de sonho, era mal pago mas pelo menos era estável e encarei isso com uma possibilidade para continuar a estudar e poder escolher um melhor caminho para mim. 

 

Olhei para este trabalho como uma oportunidade mas a verdade é que não vi a pintura toda como deveria ter visto. 

Um dos presidentes desta instituição de trabalho era o meu pai. 

O meu pai sempre foi contra as cunhas e nisso estamos de acordo. 

Fiz todos os testes psicotécnicos, avaliações e entrei por mérito próprio. 

 

Mal sabia onde me estava a meter. 

Nesta instituição onde mais de metade das minhas chefias não se davam com o meu pai, comecei a sofrer represálias de todos os lados. 

Aguentei firme, fui o mais correta e esperta possível. 

Inicialmente tive um contrato de 1 ano e só depois poderia me tornar efetiva e neste ano tive de andar a guardar provas de todo o meu trabalho para que ninguém me entalasse. 

Seja da faturação, contabilidade ou de qualquer outro serviço, tudo me caía em cima. 

 

Um exemplo ridículo de situações que aconteciam: 

A pessoa responsável por me dar acessos aos programas de faturação, recusava-se a dar-me acessos para eu trabalhar e passados meses faz queixa de mim por eu não estar a mexer na faturação. Só que no meio disto pedia-me para eu lhe enviar documentação por email a pedir para ela fazer a faturação. Então mostrava os meus emails a pedir para que ela trabalhasse por mim. 

O problema aqui foi que a chefia desta pessoa queria encontrar motivos para me despedir porque já que não podia fazer nada ao meu pai, assim caía-me em cima. Mal eles sabiam que o meu pai se estava a lixar para mim. 

 

Como dei a volta? 

Tive boas pessoas e bons profissionais que me conheceram e viram o meu trabalho, e perceberam o que me estavam a fazer e ajudara-me a provar o meu valor. 

Mas não foi nada fácil o primeiro ano. 

 

Assim que tive acessos para proceder á faturação comecei a encontrar valores na casa dos milhares que não eram cobrados a determinadas pessoas que faziam parte desta instituição. 

Uma recém-chegada aos recursos humanos caiu na asneira de me dar mais de 50 contratos de trabalho para levar aos trabalhadores para assinar. 

Estes contratos eram de prestadores, que não existiam, mas nestes contratos havia assinaturas da direção bem como estavam os IBANs e valores a serem transferidos. 

Estes contratos obviamente que tinham um objetivo e foi fácil perceber do que se tratava. Nem 1 das pessoas daqueles contratos existiam. 

Guardei religiosamente estes contratos comigo, e dei a conhecer esta situação a pessoas que achava que podiam fazer algo. 

Mas foi em vão. 

 

Após efetivar fui para casa da minha mãe, na altura em Sesimbra passar uns dias de férias. 

Estava no meu primeiro dia de férias, o meu pai aparece para falar comigo. 

Fiquei muito intrigada uma vez que não falava com o meu pai fazia bastante tempo e ele supostamente estava a trabalhar. 

 

Posso dizer que foi uma das maiores discussões que tive em toda a minha vida. 

O meu pai fala alto e está habituado a bate boca andando entre as áreas de advocacia banca e política. Eu, por outro lado sempre fugi de discussões. 

Então ele começa a gritar comigo a dizer que me vai despedir e começa a falar e a gritar sem sequer um bom dia ou sem sequer me deixar falar. Discutiu ao ponto de me fazer berrar a bons pulmões com ele. 

Foi muito feio e sabem que mais?  

Motivos zero. 

Houve um erro de faturação de 2 cêntimos (0.002€). 

Sim, foram horas de discussão por 2cêntimos. 

O melhor? É que o erro nem sequer era meu, ele tinha visto mal, ou melhor nem perguntou. 

Viajou de Sintra para Sesimbra para ameaçar a filha de ser despedida, no seu primeiro dia de férias. 

O motivo? Viu mal, e seriam 2cêntimos que poderia ser perfeitamente repostos ou poderia ser um engano, todos nós nos enganamos, certo? 

Tive colegas de outros departamentos com erros de faturação na casa dos milhares de euros e nunca ninguém disse nada. Aliás, todos os meses alguém levava um bom “extra” para casa e toda a gente sabia e via isto a acontecer e ninguém fazia nada. 

Sendo ele uma das pessoas com acesso a toda a informação, gostaria ainda hoje de perceber o motivo deste episódio que não foi nada bonito. 

Discutimos, e entretanto ele foi embora. 

Soube que ele nesse dia acabou por ter de passar no hospital por se ter sentido mal, sendo ele também um doente cardíaco. 

A verdade é que depois desse dia ele nunca mais discutiu comigo. 

 

O tempo passou e foi muito importante crescer profissionalmente nesta instituição. Fez-me ser mais prudente, a trabalhar bem, ser eficaz além de pensar muito bem em como provar tudo o que vou fazendo, seja onde for. 

 

Apenas anos mais tarde consegui sair desta intuição, para mudar para outra área mas posso dizer que foi uma excelente aprendizagem. 

 

Depois destes atritos com o meu pai, onde não houve um pedido de desculpa, jamais, fomos lidando com normalidade em dias de convívio familiar. Foi quase um passar por cima. 

 

Uns anos mais tarde, para conseguir voltar a estudar mudei-me para casa dele porque era a única forma que tinha de conseguir ter liquidez para pagar o meu curso. 

Imaginem, o curso que fui tirar aos 30? O curso que ele não me pagou quando estava no secundário. 

Honestamente acho que ele nunca se importou com isso, está demasiado ocupado com o seu umbigo. 

Vivi em casa dele durante aproximadamente 2 anos, até ao aparecimento do Covid. 

Quando apareceu o Covid e enviaram toda a gente para casa, quando ia a chegar a casa, neste caso era a casa do meu pai, ele diz-me para procurar outro sítio, para ir para casa do meu namorado porque não podia ficar lá em casa. 

Basicamente quando não tinha mais para onde ir, e com o confinamento a ser imposto, ele põe-me fora de casa. 

Deu-me parte das minhas coisas pela janela de casa dele (felizmente mora num primeiro andar baixo). 

O meu namorado na altura foi um ser humano brilhante, ajudou-me em tudo, levou-me imediatamente para casa dele e ao mesmo tempo só lhe apetecia esmurrar o meu pai pela atitude desumana que teve. Só um ano depois é que consegui ir buscar o resto das minhas coisas e não me cruzei com ele. 

Depois disto voltei a ver o meu pai este Natal que passou. 

 

 

Entretanto marcou um almoço comigo e com as filhas de um dos melhores amigos dele em Janeiro. 

Inicialmente o motivo do almoço era para nos vermos (nós as 3 que nos conhecemos desde pequenos e sempre mantivemos contato) mas depressa todas percebemos o motivo do almoço. 

Ele não fala com este melhor amigo faz anos, e queria a nossa ajuda para reatar a amizade com ele. 

Este antigo melhor amigo é uma pessoa que adoro e com quem me dou muito bem.  

Sempre me tentou ajudar em tudo, sempre ligou a perguntar se estou bem, até quando mudei de casa quis ajudar!  

 

E esta é uma questão que ainda tenho em mente. 

Até poderia ajudar a reatar a amizade. 

Se não o fizer é porque posso estar magoada e estou a agir incorretamente com os meus próprios valores? 

Por outro lado, não quero ter nada a ver com o meu pai, apenas estou disposta ao convívio em dias de Natal ou Páscoa. 

 

Acho que cheguei ao ponto de não querer saber. 

Não desejo mal, mas se não me faz bem, escolho não estar. 

Por outro lado, se ele precisar eu sei que irei ajudar, não sou vingativa e as minhas atitudes serão o meu reflexo, não o dele. 

Mas mesmo assim, por agora só o mínimo e o indispensável. 

Rancor?  

Não. 

Mas aprendi a gostar de mim e a valorizar-me muito mais.

Por cada vez que fui desvalorizada, tive de reaprender o meu valor.

 

 

 

Mudar de área aos 30.

Íris, 20.03.24

 

Voltei a estudar aos 30.  

Acabei o curso profissional pouco antes de fazer os 31 anos. Fui tirando este curso enquanto trabalhava em outra área. 

 

Durante um ano letivo trabalhei, chegava a entrar pelas 7h30 e terminava as aulas por volta das 23h, foi um ano puxado.  

E entre aulas e trabalho fui fazendo um estágio em part-time entre o horário de trabalho e o horário de início das aulas e vice-versa. 

No trabalho tinha horários rotativos, tanto entrava de manhã pelas 7h30 nos dias em que tinha aulas, como entrava da parte da tarde, às 15h quando não tinha aulas, e desta forma fui conjugando o estágio e os trabalhos do curso. 

 

A verdade é que não me sobrava muito tempo livre, ou quase nenhum durante este ano. 

Foi um ano exaustivo e só descansava ao fim-de-semana quando não tinha de ir trabalhar. 

O ordenado era extremamente baixo pouco passava dos 700€, e para frequentar este curso tive de ir viver com o meu pai, bem como trabalhar parte dos fins-de-semana. 

 

Na altura estava a dividir casa e mais de metade do ordenado ia para a casa, o que sobrava não chegava para pagar o curso que ultrapassava os 400€ por mês. 

Foi uma decisão difícil, ir viver com o meu pai, mas foquei-me na minha prioridade que era fazer uma mudança de área, investir em mim para mais tarde não ter dependências e conseguir um ordenado maior. E principalmente, fazer algo que gostasse. 

 

Quando fui viver com o meu pai, fui surpreendida por ele ter pedido a pré-reforma. Ou seja, pensava eu que ele ia continuar a trabalhar e a estar fora semanas como sempre esteve. Quando dei por mim, percebi que ainda tinha de ter mais esta pedra no sapato com que não contava. Mas também pouco ou nada estava em casa por isso na altura não me preocupei. 

 

O estágio que frequentei não era remunerado, como seria de esperar, e terminei em Setembro, pouco depois do curso ter terminado (o curso terminou no fim de Julho). Neste estágio acabei por não fazer nada ligado ao que tinha estudado e foi uma autêntica perca de tempo, que só percebi passado algum tempo. 

 

Terminadas as aulas e o estágio, continuei a trabalhar onde trabalhava, mas comecei a procurar oportunidades. 

 

Apenas em Janeiro surgiu uma hipótese de mudar de trabalho. 

Esta primeira hipótese foi a entrada num curso com possibilidade de ficar alocada posteriormente a uma consultora. 

No momento da apresentação do contrato, quase um mês depois de estar a frequentar o curso, recusei pelas condições apresentadas e fiquei sem trabalho, fiquei completamente descalça. Apenas com um curso, e uma formação de um mês e sem experiência. 

Cheguei a pensar em voltar a trabalhos precários, mas não desisti. 

Neste período continuava a viver em casa do meu pai.  

Para não dar a conhecer que estava entre trabalhos, saía de casa cedo como se fosse trabalhar e chegava apenas pela hora de jantar, de forma a poder ir logo para o quarto e não dar muita conversa. Não queria perguntas, pois ele sempre me caiu em cima por tudo e por nada e no momento tinha o foco em objetivos, estava determinada a conseguir algo melhor para mim, não tinha tempo nem energia para gastar com bate-bocas. 

Mas sempre foi assim, não era novo. 

Mantive sempre as horas de saída e chegada iguais durante todo o período que vivi em casa do meu pai. Era cansativo, mas tomei essa decisão porque precisava de estabilidade emocional e assim ao menos evitava possíveis conversas. 

 

E passaram-se aproximadamente 2 meses. 

Ligaram-me de uma consultora e lá fui eu á entrevista. 

Na altura fiquei muito satisfeita, e ao mesmo tempo ansiosa, pois tinha consciência que a minha experiência era zero e já tinha 31 anos. 

Nesta consultora a entrevista correu muito bem, mas as perguntas técnicas que me fizeram foram praticamente nulas o que me deixou desconfortável, pois percebi que nem eles sabiam o que queriam. E, apesar de ser nova nesta área de trabalho (IT), já estava no mercado de trabalho há anos suficientes para fazer uma leitura sobre as situações que me são colocadas á frente. 

Ora, recebi uma proposta de trabalho como aprendiz, a receber 700€. Aceitei, até porque sabia que mudar de área teria um custo, mas ao mesmo tempo seria um investimento. 

E, afinal já estava habituada a ganhar muito pouco por isso nem pestanejei. 

Estive nesta consultora durante 6 meses. 

Posso dizer que foi das priores experiências profissionais pelas quais passei. 

Não pela consultora, mas pela equipa com que trabalhei. 

Apanhei chefias que chegaram a colocar-me quase virada para a parede. 

Sim, passei por isto. Parecia uma escola primária. 

Se me calei? Não. E esse foi o motivo por não ter continuado mais do que 6 meses.  

Aguentei por não ter opção, peguei nos 6 meses de experiência que me desgastaram muito, não pelo trabalho em si mas pelo mau ambiente... e segui caminho. 

 

Estava confiante de que com 6 meses de experiência já conseguia ter um leque de opções e estava disposta a aceitar uma nova proposta de trabalho pelo mesmo valor. 

E as propostas chegaram a tempo e boas horas! 

E melhor remuneradas. 

Durante um mês tive várias entrevistas e confesso que no início estava ansiosa e com medo de entrar num outro buraco igual ao que tinha estado. 

Estava com falta de confiança em mim e nas pessoas. 

Durante esta transição ainda vivia em casa do meu pai e continuei com os horários de saída e entrada em casa como se continuasse a trabalhar no mesmo sítio. Passeava por Lisboa com mala e portátil sempre comigo, e aproveitava para ir tirando cursos on-line, ler e ou escrever. 

 

Fui recebendo várias ofertas de trabalho razoáveis mas a que aceitei foi “aquela” oferta, foi uma experiência seja a nível profissional, seja a nível de ambiente de trabalho que me marcou muito pela positiva. 

 

 

Um dia recebo mais uma mensagem privada no Linkedin, de um recrutador com a descrição do anúncio publicado nas redes sociais de trabalho. 

Li o anúncio e respondi que não tinha experiência suficiente para o pretendido e agradeci a mensagem. 

Recebi nova mensagem de volta, com indicação de que deveria experimentar fazer a entrevista porque poderia correr bem. 

Não pensei duas vezes, aceitei e marcámos a entrevista. 

E uns dias depois lá fui eu presencialmente á consultora. 

Estávamos em Outubro de 2019, ainda se usava o modelo de entrevistas presencialmente na área de IT. 

No momento da entrevista fui surpreendida pelo diretor de IT da consultora, uma vez que a pessoa que me ia entrevistar estava de férias. 

No momento pensei para comigo “já fostes”. 

Entretanto começa a entrevista e acabo por conhecer um diretor que se apresentou de igual para igual, nada de muitos formalismos, que depressa me colocou á vontade e me mostrou o projeto para o qual estava a contratar pessoal. 

Fez-me questões técnicas, ao mesmo tempo tentou perceber as minhas motivações e perceber o meu potencial. 

Entretanto disse-me algo como” estava á procura de alguém com mais experiência, mas as pessoas experientes que têm aparecido não têm soft skills. Quero alguém para os quadros da empresa, por isso quero alguém como tu, vais encaixar muito bem na minha equipa. E, com as tuas soft skills aprendes rápido”. 

 

E foi com este diretor que o meu trajeto profissional melhorou do dia para a noite. 

Disse rapidamente que sim, tinha adorado o projeto, as ideias, o á vontade. 

Depois do que tinha passado era mesmo de uma oportunidade saudável que precisava. 

 

Entrei nesta consultora onde todos éramos tratados de igual para igual. 

Às sextas, todo o departamento de IT se juntava para almoçar com tempo e alegria. 

Não havia confusões, foi mesmo um ambiente muito bom, foi uma experiência fantástica. 

Estive rodeada de excelentes profissionais, aprendi, ri muito.  

Aprendi muito e cheguei a fazer muitas horas pela noite dentro para colocarmos soluções Online. Mas nestas horas fatídicas que eram combinadas com antecedência pela equipa, todo o Board e diretores se juntavam, tanto para ajudar no trabalho, como para encomendar comida e trazer doces para alegrar a malta. 

Não há muitas equipas, mas esta foi e é uma super equipa. 

Foi nesta equipa que percebi que há bons ambientes de bom trabalho, basta encontramos trabalhos onde há boas pessoas. 

Reestabeleci a minha confiança em encontrar bons ambientes de trabalho. 

 

Quando apareceu o Covid o projeto em que estava a trabalhar foi suspenso e acabei por mudar de empresa. Entretanto já mudei duas vezes de consultoras mas posso dizer que mantenho um nível muito bom de ambiente e adoro o que faço. 

 

 

No meu passado passei por inúmeras empresas, umas más e outras mais ou menos. 

Sempre me cortaram as pernas por questionar ou por tentar ser justa. 

Tentaram despedir-me por encontrar erros demasiado grandes na faturação, por encontrar contratos com pessoas que não existiam e mil outros exemplos. 

Reportava tudo e quanto mais reportava mais sofria represálias. 

Encontrei de tudo mas sempre fui fiel a mim mesma, tentei sempre ser o mais justa e correta possível, sem medos pois nunca tive nada a esconder. 

Mas o preço de se ser honesto nos dias de hoje é muito alto. 

 

Hoje olho para trás e sinto-me muito feliz por estar a trabalhar onde estou, com bom ambiente. 

Também sei que estou a colher os frutos do meu esforço, dedicação e principalmente valores. 

Apesar de me ter custado muito fazer este percurso, repetia tudo novamente. 

 

 

Relacionamentos saudáveis. 

Íris, 18.03.24

 

 

Com o passar das experiências, vivendo, observando e colhendo histórias das pessoas que me rodeiam, vou definindo para mim mesma uma ideia diferente do que é um compromisso, ou melhor, de como se chega a um relacionamento saudável. 

 

As pessoas conhecem-se, analisam-se umas ás outras e fazem uma lista do que gostam ou não na outra pessoa. E, mediante esta “entrevista”, escolhem criar um compromisso. 

E depois de assumirem um compromisso, começam a comportar-se de forma diferente  e começam a surgir surpresas. 

Começam a surgir novas atitudes como possessividade, ciúmes, e os desentendimentos começam a aparecer como se fossem pipocas. Percebem também que os gostos nada têm a ver e tentam moldar a outra pessoa para que o tempo que passou não seja tempo perdido, ou seja, começa a haver um esforço desnecessário para que o relacionamento continue. E por outro lado, como já estão num compromisso, deixa de haver a tal obrigatoridade e filtros para agradar á outra pessoa e começam a revelar o que são, como pensam.

 

A minha ideia de como criar um compromisso é um pouco diferente da maioria das pessoas que conheço, mas entendo o que se vá fazendo por aí, até porque é o que nos foi incutido desde sempre. 

 

Quando encontramos determinada pessoa que faz match com o que gostamos, sentimos a necessidade de ”agarrar” essa pessoa. Depois quando as pessoas se “agarram” acabam por perceber a realidade de como é estar numa realação com essa pessoa, e desiludem-se muitas vezes. Porque tinham criado uma ideia de como seria ter um relacionamento com a pessoa e a realidade é muitas vezes oposto, distinta ao que tinham em mente, que tinham idealizado. 

 

Como contornar as desilusões?  

Como antecipar estas situações que depois acabam por se arrastar por meses, anos ou até por uma vida? 

Querendo ou não, criamos sempre espectativas sobre as pessoas. 

A melhor opção seria não o fazermos e deixarmos fluir, mas sabemos que não é bem assim, somos racionais e temos uma necessidade de controlar tudo e todas as situações para protegermos as nossas emoções. 

 

Então o que poderemos mudar? 

Na minha humilde opinião e, vale o que vale, devemos começar por não ter pressa. 

Não sentir a “necessidade” de ter um compromisso ou relacionamento. 

Sim, a pressa faz-nos querer agarrar as pessoas que achamos que nos fazem sentido e só depois as conhecemos melhor. Acabamos por forçar relações. 

Ora, a pressa é inimiga da perfeição como se costuma dizer e bem. 

Se não houver a necessidade de um compromisso, vamos lidar com essa pessoa em questão de uma forma desapegada, e ao mesmo tempo vamos dar tempo e oportunidade de conhecermos as pessoas e vivenciar diversas situações, experiências, que são necessárias para realmente conhecermos alguém. 

E, não é só quando tudo corre bem, que conhecemos alguém. 

É nas situações do dia-a-dia, no convívio, no estar entre amigos e ou família. 

No meio dos problemas ou num dia que não corra bem. 

É também nos dias livres, nas atividades que gostamos de fazer e que muitas vezes gostávamos de ter a companhia de alguém, seja pela partilha ou por outra razão que nos faça sentido. 

 

Estar com alguém, sem compromisso, mas claro, alimentando este desejo, viver experiências, perceber se faz sentido ou não. 

 

E, se tudo fluir com naturalidade, acabamos por olhar para trás e percebemos que já estamos numa relação, que mesmo que se fale em definir o tal “compromisso”, já estamos dentro dele, por isso assumir não deve trazer nada de novo, deve apenas ser uma definição para algo que já fluiu naturalmente para tal. 

 

Deve ser o oposto do que estamos habituados a fazer, para que não aconteçam as tantas conhecidas surpresas que nos levam a momentos de infelicidade.  

Não é na definição de um relacionamento, através de palavras que se cria uma relação, já que a mesma deve ser baseada em vários aspetos como confiança, amizade, compreensão, empatia e respeito. Por isso não é com uma simples conversa que o obtemos, será ao contrário. 

Se fluir naturalmente, teremos relacionamentos saudáveis. 

O oposto, iremos mergulhar em relacionamentos cansativos, desgastantes e na maioria das vezes com os dias contados. Arrastar um relacionamento só para não estarmos sozinhos nunca trouxe nada de bom.  

Os relacionamentos devem ser oportunidades de crescimento, desenvolvimento pessoal e se logo de início é necessário esforço para estarem minimamente alinhados, então serão apenas lições. 

 

 

 

O barulho é a total ausência de paz. 

Íris, 10.03.24

 

 

A única forma de haver total descanso é com silêncio. 

Mas nos dias que correm estamos mais do que habituados ao barulho de todas as formas. 

É o transito, o movimento nas ruas a qualquer hora do dia, pessoas que falam alto só porque sim, e nós próprios que fugimos constantemente á nossa necessidade de silêncio porque não sabemos lidar com o que isso representa. 

Conheci muitas pessoas que têm necessidade de estar constantemente a fazer atividades para fugir ao seu silêncio e isso é um problema. 

Não nos deve ser normal viver uma vida cheia de barulho, não é saudável. 

Sem silêncio o sono não é de qualidade. 

Sem silêncio não conseguimos perceber ao certo o que sentimos e o que nos passa realmente pela mente. 

Sem silêncio é impossível estabilizar as nossas emoções. 

E sem silêncio não nos é possível ouvirmos o que nos vai na alma. 

Não nos é possível estabilidade. 

O barulho é a total ausência de paz. 

 

Estamos habituados a viver em prédios, onde inúmeras famílias dividem os andares, com inúmeros horários diferentes. 

Cada um tem a sua própria consciência do que é o respeito pelo outro e isso deveria ser levado a sério. 

As pessoas gritam, arrastam móveis, andam de saltos em casa, e esquecem-se do barulho que passam para os seus vizinhos. 

Por outro lado, são estas mesmas pessoas que convocam condomínios nos prédios para proibir animais de estimação. 

E são estas pessoas que quando há uma família com crianças pequenas que quer alugar uma casa, a passam para último lugar por causa do barulho que podem fazer. E, honestamente, nesta situação é muito mais aceitável, visto estarem ainda a aprender e não esquecer que nem todas as crianças são barulhentas. Até porque ouve-se mais os gritos dos pais com as crianças do que as próprias crianças quando brincam. 

As pessoas simplesmente gritam e este é um reflexo do que vai dentro delas. Uma autêntica bomba que só é exteriorizada pelo volume mais alto que conseguem emitir. 

Batem com as coisas, e esta é a forma como estão na vida, brutalidade, falta de respeito por tudo o que têm, a ausência da gratidão. 

Quem tem o hábito de bater com as coisas, por norma também pratica a procrastinação. 

Falar mal de si, dos outros, vitimização. 

São características que geralmente andam de mãos-dadas. 

Ora, se a maioria das pessoas tem estes hábitos, viver num prédio cheio delas não é de todo saudável. 

O barulho é só o elemento mais “gritante”, mas a energia que esta confusão emana é altamente tóxica. 

Não há como fugir se não gerir emoções face a este tipo de situações. 

 

 

Por mim falo, viver rodeada de pessoas egoístas, que fazem o que querem, á hora que querem, prejudicando o descanso dos outros sem sequer se colocarem no lugar dos outros é extremamente cansativo. 

Ao fim de vários meses a viver com vizinhos barulhentos, ontem, Sábado, tive de pedir duas vezes para reduzirem o barulho, com ameaça de chamar a polícia. Uma situação completamente desagradável e desnecessária. 

 

O egoísmo que presenciamos é tanto, que a ideia de pegar em tudo e mudar de localização começa a ser diária. 

Ao mesmo tempo são situações como estas que nos fazem perceber o que é mais importante para nós, e acabam por nos direcionar para o nosso caminho, seja ele onde for. 

 

Já me chamaram anti-social, e já me criticaram muito. 

 Mas na verdade não o sou, gosto do contacto com pessoas, gosto de conversar. Mas sou seletiva e fujo de ambientes onde o tema de conversa seja mesquinho e tóxico. Gosto de temas construtivos, gosto de aprender e aprecio o bom ambiente e pessoas que gostem de crescer.   

E essencialmente gosto de estar em contacto com a Natureza em vez de me enfiar num centro comercial. 

Mas a verdade é que quanto mais nos habituamos ao silêncio, e apreciamos o silêncio, mais difícil fica continuarmos em certos locais, e lidar com pessoas com quem sentimos que já não nos encaixamos. 

E é través do silêncio que conseguimos encontrar a nossa verdadeira morada, que é e será sempre dentro de nós.